Andando na grande paulista pude perceber a falta de monocromia da metrópole, mais cromo que muitas polis. A diversidade de formas, cores, energias e vibrações era muito superior do lugar de onde vim. Vim e estou vivendo, do décimo quinto andar deitada na rede estendida no canto esquerdo da sala, ouvia uma melodia. Era um artista. Um músico de rua que tocava em seu saxofone singelas melodias angustiadas. Era lindo aquele momento. A poeira entrava pela janela e sujava as plantas. O relógio mostrava dezoito horas, hora do rush. Milhares de pessoas suadas ansiando por um sofá. É triste, é hipócrita, é superficial, é vazio, vazio.
Ando por cabelos estilizados, escorro por corpos de artistas, beijo bocas sinceras e inquietas, queimo roupas coloridas e diferenciadas. Ainda assim indago sobre a minha existência, momento esse de saudosismo adolescente que me lembra adolescência. O eterno dilema entre o viver e o existir. É triste se achar vazio, mas mais triste do que isso é perceber que o mundo também o é. Vejo isso pela janela, nas antenas coloridas, nas bandeiras, na hora do cafezinho, nos intervalos pro cigarro, nos filmes da TV, no próprio formato dela, nas moças que andam de sapatinhos e saias abaixo dos joelhos, nos homens de camisa e gravata. Lembro-me de Eva, das mulheres revolucionárias, de mamãe, do feminismo, da minha personalidade e mesmo assim quando me sinto vazia como estou, o que me faz sentir menos incompleta, é um antigo amor, não tão artístico que não possa ser chamado de paixão, não tão comum que nao possa ser chamado de artista. E no meio de tanta contracultura o que me salva é o abraço inquieto, o sorriso indiscreto, as mãos deslizantes, o eu te amo sussurrado, os gemidos. O que me salva é o amor do marido, o desejo do filho, a casa desarrumada aos domingos, o almoço em família. Doce contradição, antigo dilema, experiência própria.
sábado, 27 de março de 2010
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