sábado, 2 de outubro de 2010

Tu não te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas

Não me responsabilize pela ação conjunta do gostar. A culpa não é minha não. Até porque nesse jogo dois a dois, nessa brincadeira do se relacionar, não há culpabilidade! Responsabilidade é uma palavra muito pesada pra se referir ao amor cativado. Já dizia o poeta: amar é caminhar na neve sem deixar pegadas. E é assim que é, se te lanço um olhar que só é meu, a culpa dele não é minha. Eu também quero viver, também quero ser cativada, e nunca te responsabilizarei por isso, não por isso! E é por isso que eu reinvento. O eterno está longe demais, é inalcansável, o dia de amanhã ninguém sabe. E se existe eu e se existe você, vivamos e não nos responsabilizemos. Cativemos e nos deixemos cativar. E fim, sem mais, eu só quero amar!

domingo, 11 de julho de 2010

sou um covarde

decidi que nunca mais vou amar!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

sobre o término

ele chegou em casa com os pés descalços,
disse que agora tinha os pés no chão,
disse que me amava... mas que ia embora..


vai príncipe, ser gauche na vida!

sábado, 27 de março de 2010

Primeiras impressões: São Paulo

Andando na grande paulista pude perceber a falta de monocromia da metrópole, mais cromo que muitas polis. A diversidade de formas, cores, energias e vibrações era muito superior do lugar de onde vim. Vim e estou vivendo, do décimo quinto andar deitada na rede estendida no canto esquerdo da sala, ouvia uma melodia. Era um artista. Um músico de rua que tocava em seu saxofone singelas melodias angustiadas. Era lindo aquele momento. A poeira entrava pela janela e sujava as plantas. O relógio mostrava dezoito horas, hora do rush. Milhares de pessoas suadas ansiando por um sofá. É triste, é hipócrita, é superficial, é vazio, vazio.
Ando por cabelos estilizados, escorro por corpos de artistas, beijo bocas sinceras e inquietas, queimo roupas coloridas e diferenciadas. Ainda assim indago sobre a minha existência, momento esse de saudosismo adolescente que me lembra adolescência. O eterno dilema entre o viver e o existir. É triste se achar vazio, mas mais triste do que isso é perceber que o mundo também o é. Vejo isso pela janela, nas antenas coloridas, nas bandeiras, na hora do cafezinho, nos intervalos pro cigarro, nos filmes da TV, no próprio formato dela, nas moças que andam de sapatinhos e saias abaixo dos joelhos, nos homens de camisa e gravata. Lembro-me de Eva, das mulheres revolucionárias, de mamãe, do feminismo, da minha personalidade e mesmo assim quando me sinto vazia como estou, o que me faz sentir menos incompleta, é um antigo amor, não tão artístico que não possa ser chamado de paixão, não tão comum que nao possa ser chamado de artista. E no meio de tanta contracultura o que me salva é o abraço inquieto, o sorriso indiscreto, as mãos deslizantes, o eu te amo sussurrado, os gemidos. O que me salva é o amor do marido, o desejo do filho, a casa desarrumada aos domingos, o almoço em família. Doce contradição, antigo dilema, experiência própria.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

carta a deus

Deus, resolvi escrever para você. Estava pensando, escrevi para quase tudo que acredito e também para o que não acredito, como a solidão, a tristeza, o amor, a reencarnação, essas coisas que já gastaram muito papel e suor, menos a você. Eu sei que você deve estar muito ocupado, talvez criando novas galáxias, ou talvez um mundo como o meu. Não! Você não faria essa besteira de novo, né? Bom, eu sei que deve estar muito ocupado, pois faz tempo que não olha pra cá, não é mesmo? O que eu tenho pra dizer, é que pouca coisa mudou. Algumas só mudaram de nome mesmo, mal caráter por exemplo, virou personalidade, fanatismo virou religião e desigualdade é sinônimo de capitalismo. Os nazistas viraram neo, mas com a mesma ideologia. Ah, se lembra dos senhores feudais? Então, esses são os novos prefeitos. Se lembra dos reis? Agora eles são os presidentes, mas fazem as mesmas coisas. Acredita que ainda existe Pacto Colonial? Pois é, existe sim, principalmente na América Latina e África, só os norte-americamos se safaram! Oh raça boa essa que deu, viu. Acho que o ar norte-americano só fez renascer o barbarismo anglo-saxão. Mas, na verdade, nós aqui de baixo é que somos bárbaros, sabia? Sim, somos conhecidos como os bárbaros do sul! Isso, só porque nós queremos também uma fatiazinha do pão. Ah, por falar em pão, comé que tá seu filho? Viu, não tá na hora de fazer outro não? Nós aqui estamos precisando. Quem sabe com um novo slogan? Tipo "ama teu próximo como a tua mãe"?. É que andam dizendo que amor é só de mãe, nem amor próprio existe mais! Se bem que eu achei esse slogan um pouco brega. Ah, já sei, "ama teu próximo como ama o dinheiro"! Nossa! Esse é bom, não? Desse jeito vai ter até ateu querendo rezar! ... Posso te fazer uma pergunta? Já tô fazendo né?! Deus, você é branco? Ou é racista? Pode falar eu não tenho preconceito não, e sei guardar segredo, tá? É que só pode ser, ou é branco ou é racista! Por quê? Os pretinhos não combinam com o céu que é branco? Ah, eu não sei disso não, e nunca vou entender. Mas, sabe, gostaria de te fazer uma crítica. Gripe, tudo bem; tuberculose, até vai, mas a AIDS foi uma criação de muito mal gosto! Desculpa falar. Será que não dá pra liberar mais 5% do nosso cérebro pra gente descobrir a cura? Descola essa, vai! Mas, voltando ao assunto, sabia que a África que quase sempre foi toda de negros, agora tá querendo mudar? Pois é, agora não é toda só de negros. No norte agora, eles querem ser conhecidos como África Branca, querem reconhecimento disso agora, vê se pode!... Eu tenho outra dúvida. Eu pensava que a Terra era de toda a humanidade, mas parece que não é mais não. Tão patenteando tudo por aqui, começaram pela terra, agora tão querendo patentear a água, onde já se viu! Água agora tem é que ter dono! Mas não é você mesmo que prega que o nosso bem não é material? Por que deixa seus filhos distorcerem tanto seus ensinamentos? Olha, e deixa eu comentar, uma coisa que é até engraçada, a Torre de Babel não é uma formiga perto do que tão fazendo, viu. Já mudaram o clima mundial, construíram desertos, criaram novas plantas e até no dia da morte das pessoas tão interferindo. Tão querendo ser deus, viu! Minha mãe sempre falou, se você não faz o seu trabalho, sempre vem alguém e faz. Nossa, e quantos Abels e Cains existem! É irmão branco contra irmão preto, é irmão socialista contra irmão capitalista, irmão norte contra irmão sul, sem contar os irmãos vizinhos que brigam. E brigam por casa besteira, mal sabem eles que se dividissem as coisas, não faltaria nada a niguém e poucas pessoas teriam de morrer. Ah, e como uma mulher do século XXI que sou, quero negociar os meus direitos! Tá na hora de mudar a bíblia, muito ultrapassada, muito machista pro meu gosto. Tão lançando bíblias cor-de-rosa, sabe, mas o por fora, não muda o por dentro, ninguém é burra aqui não! Quem sabe, você até não tiraria a história de Adão e Eva! É porque a história dela foi muito utilizada como desculpa por maus tratos a nós! Não tô querendo mudar a história do mundo, só tô pedindo uma revisão mesmo. Você vem ao público, diz que se precipitou e conta uma história nova, que tal! Todo mundo vai acreditar. E, indo mais além, quem sabe a criação de uma deusa? Han? Estamos precisando de uma representação mais ativa aí no céu!... Já falei demais, não é? Pra encerrar gostaria de te falar uma coisa. Muitas pessoas pensam que é preciso ter religião para ser bom, mas desde que eu tô aqui, tô querendo mudar essa visão, pode contar comigo como uma parceira do bem e do amor, tá! Acho que é isso mesmo, pode voltar aí com os seus afazeres. Essa é a minha oração.

E que assim seja!

A Dionísio

Oh, deus do amor! De ti não quero nem o amor, que entendo ódio, entendo egoísmo, entendo pena e traição, de ti não quero nem o deus, nem as chagas, nem o milagre, nem o trigo... Celebrai ó deus a vinda de Dionísio, que é todo vinho! Desça da cruz, saia da escuridão, para de sofrimento. Comemorai ó santo de dois mil anos a nova era, demasiada embriagada, demasiada viva, demasiada dança... nas vinhas, no céu e nos portos! É disso que sei o amor!

Acordou, mas não quis abrir os olhos. Deitada a beira-mar, com seus cabelos de algas e tranças de flores. Já sentia o sol e a brisa continental. Passou a mão em seu corpo escamoso, as feridas ainda sangravam, mas o sal do mar há de curar. A noite do banho marítimo foi sofrida, mas sofreu calada e adormecera. Agora, só queria ir para casa. Levantou-se, com suas garras membranosas, sentia a areia e até isso lhe doía, mas lembrava-se de como era bonita a cor do mar, do céu e da areia, na conjunção mais perfeita e isso a acalmava. A cidade já acordada, estremecia com a premonição de sua presença. Seguiu seu caminho com a intuição da certeza. Passou pelas barracas de cocos, e os homens assustados não acreditavam no que viam. “Monstro”, “sereia”, “extraterrestre”, ouviu de tudo. Passou pelos carros calmamente. Os carros batiam, pessoas quase foram atropeladas. Crianças choravam, jovens riam, idosos chingavam, mas ninguém a entendia. Subiu em seu apartamento, e as pessoas do prédio saíam assustadas, pegavam suas coisas e se hospedavam em conhecidos. Na frente do espelho, abriu seus olhos e só via uma mulher, cansada, com olheiras, apenas uma noite mal dormida. Fez um chá e não quis comer. Deitou no sofá e ligou a TV. Os telejornais e programas só falavam no ser encontrado na praia. “Quem seria?”, “por que seria?”, “de onde seria?”. Filmagens de cinegrafistas amadores já eram os vídeos mais visitados na internet. O prédio estava cercado, por repórteres, pela NASA, por policiais especiais armados com as últimas tecnologias, pessoas do mundo inteiro, socialistas, anarquistas e religiosos. Seria o novo messias, o novo líder, o futuro da nação? Seria o demônio, a destruição do planeta, o novo presidente dos Estados Unidos?... E o mundo queria saber... O que há faz ser o que é?... “Foi o sofrimento, mundo. Apenas o sofrimento!”.