quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Era numa segunda de manhã, quando Deus cansado da monotonia em que os homens estavam lhe deixando; pois não mudavam, as mesmas ideias, ideologias, nenhuma guerra, nenhuma sublevação, nenhum pensamento revolucionário, nenhuma arte ou cultura diferente, ou seja, sem grandes evoluções sociais; Ele resolveu mudar alguma coisa. Pensou durante seis dias, no sétimo fez. Resolveu fazer com que os animais pensassem! Nos primeiros dias, a humanidade mal percebera a mudança de seus bichinhos de estimação, estes estavam agitados, prestavam atenção nos afazeres dos homens, nas conversas, assistiam televisão, ameaçavam alguns passos de dança ao ouvirem música... E então, mudaram de comportamento, passaram a ser civilizados, uma civilização animal, é claro. Faziam as necessidades nos lugares certos, ajudavam os homens e os animais de mesma raça, ajudavam as velhinhas a atravessarem as ruas, levavam comida aos mendigos, brincavam com as crianças e tudo era paz. Mas isso durou por pouco tempo, os animais abandonaram seus novos afazeres e passaram a se reunir, cada qual com sua espécie. De repente, as bibliotecas, os sebos, as livrarias passaram a ser assaltadas, por todos os tipos de bichos e eles passaram a dominar as línguas, as ideias, bem como a entender o mundo em que estavam inseridos. Os pássaros entenderam que os homens lhes tinham inveja, abriram todas as gaiolas e construíram gaiolas gigantes onde prendiam os homens que dantes gaiolavam. Os bichos preguiças que cometiam um dos sete pecados capitais, deixaram de fazer tudo o que antes faziam e passaram a rezar por toda a eternidade. As formigas foscas descobriram que eram feitas escravas das amazonas, passaram a fazer greves, fugir para quilombos e desejavam a criação de uma lei emancipatória. Os ursos polares do norte descobriram que estavam passando fome à toa e foram nadando até o polo sul, onde se esbaldaram de pinguins. Os leões marinhos e as focas ficaram felizes com a alta expectativa de vida, unidos por esse sentimento, criaram uma máfia e contrataram tigres africanos para destruir todas as fábricas e automóveis que emitisse CO2 na atmosfera, para diminuir o aquecimento global e acabar com a possibilidade dos polos ficarem em situação de perigo. Os leões com a descoberta de serem reis da selva, se tornaram egocêntricos e viraram top models. Os gatos viraram católicos ortodoxos gregos, os cães católicos apostólicos romanos, os gatos de extrema direita, as pulgas, extrema esquerda. Os linces viraram hippies, os cachorros do mato, ateus. As formigas atacavam, em bandos, as docerias, as cigarras viraram boêmias e cantoras da noite. Os sapos viraram macumbeiros e em encruzilhadas costuravam a boca de homens e mulheres com o nome do pretendente dentro. Os insetos se uniram todos e faziam grandes raves iluminados pelos vaga-lumes. Os ácaros passaram a lutar contra as bactérias que se encontravam unidas aos vírus, numa grande Guerra Microscópica. Os tubarões descobriram que não mais precisavam ficar caçando peixinhos e começaram a comer as rêmoras que ficavam unidas a eles lhes comendo os restos das comidas. Os répteis cansados da fama de insensíveis, se tornaram os grandes intelectuais e poetas da época e dissertavam sobre os temores e amores da alma animal. As girafas africanas passaram a ser donas de empresas fabricantes de preservativos e faziam campanhas anti-AIDS. Os rinocerontes africanos passaram a matar todos os políticos corruptos da África, as corujas passaram a investir na educação e os elefantes acabaram com a fome; em cinco anos, a África passava a primeira nação mundial e detinha 99% da população. Com tantas descobertas, os animais passaram a matar milhares de homens, os que sobraram nos outros continentes, viraram nômades, pois se ficavam parados, o fim seria trágico. Somente a população da África é que vingava e isso durou por longos anos de felicidade. Até que em uma outra segunda de manhã, eclodiram dos esgotos mundiais, a nova espécie evoluída, as baractas erectus sapiens sapiens sapiens, que sabiam que sabiam que sabiam. E eram grandes cientistas que detinham toda a tecnologia nuclear, e o esperado aconteceu, a Grande Terceira Guerra Mundial Nuclear. E foi numa grande explosão que elas acabaram com tudo que não era barata. E foi assim que começou a Nova Era, mas disso, Deus também estava começando a enjoar...

sábado, 9 de janeiro de 2010

O pássaro lá fora, grita. Não é um canto, mas se fosse, seria um canto de tragédia. Seus gritos que lá ao longe nascem, vêm como pipas cortantes, entram pelas janelas, bagunçam toda a casa e seguem o seu caminho. Nunca ouvi um canto assim antes. Triste, melancólico e tão solitário. Os berros deste pássaro vêm do nada, quando querem, eu os ouço de manhã, ao entardecer, de madrugada. Há dias que não há nada. Mas o pássaro nunca para. Seus gemidos vêm pra mim, vêm lembrar de meus próprios gemidos calados, da minha própria solidão, da minha tristeza e melancolia. Vêm, para lembrar-me que também sofro. Para eu não esquecer das minhas dores. Podia querer matá-lo por tão triste me parecer, por tal tristeza me causar. Mas há nisso tudo uma grande alegria. Eu e o pássaro. Ser humano e ave. Animal e animal, como somos, compartilhamos da mesma angústia, sendo portanto menos sós em nosso canto, triste canto.

desvarios

Ultimamente, a ideologia dos macacos. Cagar na mão e atirar nos outros!


Meus amigos atores são lutadores teatrais e conformistas da arte.


Porque no meu espetáculo, eu entrego os ovos e tomates na entrada.


O que eu posso chamar de meu, cabe em uma mala. Mas o que eu posso chamar de eu, materializado, no mundo não caberia. Porque eu sou a humanidade e a humanidade sou eu.


-Que muralha é aquela ao longe, que antes eu nunca havia visto?
-São formigas, alteza!
-Mas como parecem tão grandes, se tão pequenas são?
-Elas estão unidas, alteza!


Vocês podem me matar, mas não destruirão as minhas ideias. O socialismo teria sido pensado, mesmo se Marx e Engels nunca tivessem existido.

Sobre profissões

Deus, eu posso ser ator?
Têm muitos no mercado.

Deus, eu posso ser advogado?
Ih, esses então, deve ter dez vezes mais, fora os que não têm diploma.

Posso, então, ser médica?
Imagina, você não aguentaria uma hora diante de um paciente doente. Embora estejamos precisando de bons médicos, desses que não só pensem em dinheiro.

Então, eu posso ser psicóloga?
É uma profissão falida, as pessoas não querem abrir os olhos.

Hum, Deus, eu posso ser funcionária pública?
Desde que não se meta em política.

Então, política nem pensar! Posso ser feirante?
Não, ganha muito pouco e trabalha demais!

Ah, ai... Deus, eu posso, então, ser simples e verdadeira?
Ah, sim, poucos conseguiram vencer nessa profissão, mas quanto maior o número que tentar, melhor!

Sobre o tédio e o descansar

Eu queria, se eu pudesse, arremessar meu corpo contra as paredes inúmeras vezes, mas há móveis na sala, e nos quartos e na cozinha. Inventaram de tudo, menos isso, um lugar para se jogar. Mas eu não ligo. E quando ligo, geralmente, os telefones estão todos ocupados. Se eu pudesse, me iludiria que minha voz ecoa entre os canos e é compartilhada por alguém que não conheço. Mas também, isso não inventaram, uma ilusão verdadeira. E disso tudo, gostaria que me surgissem ideias para eu gastá-las e dizer "minhas ideias surgiram do tédio". Mas isso só acontece aos grandes escritores, não a mim. Gostaria que meu mundo caísse de vez, pois por enquanto que não cai, ele anda muito pesado.