Acordou, mas não quis abrir os olhos. Deitada a beira-mar, com seus cabelos de algas e tranças de flores. Já sentia o sol e a brisa continental. Passou a mão em seu corpo escamoso, as feridas ainda sangravam, mas o sal do mar há de curar. A noite do banho marítimo foi sofrida, mas sofreu calada e adormecera. Agora, só queria ir para casa. Levantou-se, com suas garras membranosas, sentia a areia e até isso lhe doía, mas lembrava-se de como era bonita a cor do mar, do céu e da areia, na conjunção mais perfeita e isso a acalmava. A cidade já acordada, estremecia com a premonição de sua presença. Seguiu seu caminho com a intuição da certeza. Passou pelas barracas de cocos, e os homens assustados não acreditavam no que viam. “Monstro”, “sereia”, “extraterrestre”, ouviu de tudo. Passou pelos carros calmamente. Os carros batiam, pessoas quase foram atropeladas. Crianças choravam, jovens riam, idosos chingavam, mas ninguém a entendia. Subiu em seu apartamento, e as pessoas do prédio saíam assustadas, pegavam suas coisas e se hospedavam em conhecidos. Na frente do espelho, abriu seus olhos e só via uma mulher, cansada, com olheiras, apenas uma noite mal dormida. Fez um chá e não quis comer. Deitou no sofá e ligou a TV. Os telejornais e programas só falavam no ser encontrado na praia. “Quem seria?”, “por que seria?”, “de onde seria?”. Filmagens de cinegrafistas amadores já eram os vídeos mais visitados na internet. O prédio estava cercado, por repórteres, pela NASA, por policiais especiais armados com as últimas tecnologias, pessoas do mundo inteiro, socialistas, anarquistas e religiosos. Seria o novo messias, o novo líder, o futuro da nação? Seria o demônio, a destruição do planeta, o novo presidente dos Estados Unidos?... E o mundo queria saber... O que há faz ser o que é?... “Foi o sofrimento, mundo. Apenas o sofrimento!”.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
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