quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A menina em sua penteadeira, penteia seus lindos cabelos negros, sorri ingênua e indiferente a sua feminilidade narcísica. Ela não me vê. Eu a desenho em câmera lenta, com seus pequenos pés que não tocam o chão, eles balançam e sua sapatilha cor-de-rosa brilha. A menina em sua penteadeira, sonha com bravos leões famintos e com homens maus, alguns a fizeram mal fisicamente, mas não é isso que a menina em sua penteadeira está pensando. Ela pensa em como seus cremes, perfumes e óleos cheiram bem e combinam com ela. Sua casa tem ursos de pelúcia, muitas coisas certas nos lugares certos, ela é limpa, quase como seus cabelos. A menina em sua penteadeira não faz mais do que se preocupar com sua própria beleza. E isso ela faz muito bem. É perfeita. A menina não tem um passado belo como ela, é um passado sujo e feio. Paro, subitamente, e penso, "mas uma menina não pode ter um grande passado". Súbito engano, essa menina tem mais de setenta anos. Pude perceber quando ela me olhou, pelos seus grandes olhos amendoados cheios de rugas.

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